04 de Abril de 2016 Em via esburacada, é melhor ir rápido ou devagar?
Dicas

Em via esburacada, é melhor ir rápido ou devagar?

por Eduardo Ruano

em via esburacada, é melhor ir rapido ou devagar_main

buraco-na-rua-dicas-como-lidar-ruas-esburacadas

Em uma via de paralelepípedos ou de terra, é melhor passar bem devagar para não forçar a suspensão, ou passar rápido para a suspensão ou outros componentes sofrerem menos?

Pergunta válida e, ao mesmo tempo, difícil de responder, uma vez que cada terreno tem características diferentes. Em teoria, caso só exista desnível negativo no piso (buracos), podem-se diminuir os esforços nos componentes da suspensão se a roda passar tão rápido a ponto de perder contato com o piso, não havendo tempo para a suspensão fazer "descer" a roda.

Passando-se em velocidade bem alta, talvez se consiga esse efeito, mas isso torna a condução perigosa, pois se perde o contato do pneu com o piso. Por outro lado, se houver um desnível positivo no piso (um paralelepípedo mais alto que outro, por exemplo), quanto maior a velocidade, maior o impacto aos componentes de suspensão.

É interessante notar que toda suspensão, assim como qualquer objeto, tem uma frequência natural de oscilação. Os veículos de passageiros, em geral, têm frequência natural de oscilação muito parecida, entre 1,1 Hertz (carros focados em conforto) e 1,3 Hz (modelos com suspensões mais esportivas). Lembre que 1 Hz representa um ciclo por segundo. No entanto, a suspensão tem sua frequência natural das partes não suspensas (pneus e rodas, braços de suspensão e tudo o que não está suspenso pelas molas) por volta de 10 Hz, variando um pouco conforme os pneus adotados, sua pressão de enchimento, componentes como braços e a geometria da suspensão.

Essas frequências parecidas são as responsáveis por criar aquelas ondulações repetitivas em estradas de terra, que são "assassinas" de suspensão e até de partes estruturais do veículo.

Como os veículos trafegam em velocidades semelhantes e têm frequências naturais de massa não suspensa parecidas, as rodas oscilam de forma a aumentar cada vez mais essas imperfeições. A solução nesse caso é trafegar bem devagar, o que garante menor movimentação da suspensão, ou bem rápido, o que faz as rodas "saltarem" os desníveis negativos. O problema é andar exatamente na velocidade que impõe a frequência natural da suspensão. Há um dizer popular na engenharia de suspensões de que a pior velocidade em uma rua esburacada é de 40 km/h, pois condiz com a frequência natural da massa não suspensa, fazendo a suspensão trabalhar o máximo possível. Mas, como dissemos, cada caso é um caso.

Não se pode esquecer que, mesmo quando há apenas desnível negativo, existe o risco de o buraco ser grande o suficiente para a roda ter tempo de "descer", batendo o pneu com violência na borda do buraco, o que transfere toda energia de impacto ao próprio pneu e à suspensão.

O mesmo vale para um desnível positivo. Além disso, quanto mais rápido se trafega, maior o esforço do amortecedor para segurar o movimento, uma vez que a força de sua atuação é em função da velocidade, não do deslocamento, como a mola.

Portanto, quanto mais rápido, mais as buchas de suspensão — sobretudo as que fixam o amortecedor — são obrigadas a absorver os impactos e movimentos da suspensão. Quem nunca passou rápido num desnível e sentiu aquela pancada forte?

Não nos referimos ao fim de curso da suspensão, mas a emendas de pontes, degraus quando há reforma na via ou mesmo tachões destinados a redução de velocidade. Nesse caso, a compressão da suspensão é tão rápida que o amortecedor se torna quase um objeto rígido, jogando toda a energia para as buchas. Afinal, para deslocar o veículo verticalmente muito rápido, precisa-se de muita força e energia em espaço de tempo curto.

Apesar da impressão de que andando mais rápido sentem-se menos os buracos ou desníveis, na verdade, a suspensão trabalha mais. Ao se passar bem devagar, sente-se o veículo balançar de um lado para outro, porque se dá o tempo de movimentar o carro para cima e para baixo, fazendo com que a suspensão trabalhe menos. Enfim, a maneira mais segura — tanto de condução quanto para proteção da suspensão — é trafegar em velocidades baixas.

Se serve de consolo para os brasileiros, buracos existem mundo afora, sobretudo em regiões com inverno rigoroso (neve), o que tem levado os fabricantes a desenvolver soluções para evitar danos à suspensão e amenizar o desconforto.

A Land Rover apresentou um dispositivo que, ao detectar buracos na via, adapta o controle magneto-reológico dos amortecedores, registra as coordenadas de GPS do local e transmite a informação a um sistema pela internet, a fim de facilitar às autoridades a localização dos pontos que requerem manutenção. A ideia é que outros carros com o sistema também recebam tal informação ao trafegar pela via, para que o motorista possa se precaver.

Já a Ford acaba de lançar nos Estados Unidos um Fusion com sistema que reconhece buracos e aumenta a carga dos amortecedores, para que a roda não desça e caia no buraco, a fim de proteger o pneu e os componentes da suspensão, e trazer maior conforto aos ocupantes. Mesmo com esse dispositivo, porém, a melhor forma de conduzir em ruas esburacadas é em velocidade reduzida, para evitar que o pneu perca contato com o solo.

*Via